Tudo começou com um "auika". Não que o "Almanaque dos Seriados" tenha sido escrito por um inca venusiano, mas porque foi justamente a alusão ao cumprimento dos personagens do seriado "National Kid" que despertou no jornalista Paulo Gustavo Pereira a intenção de escrever um livro que trouxesse informações de todas as séries de TV possíveis. Isso, porém, aconteceu na década de 1980, época em que a única forma de encontrar dados sobre um assunto tão específico quanto seriados era viajando ou se embrenhando em bibliotecas que tivessem referências sobre o gênero.
E foi isso que Pereira fez. "Eu ia para o banco de dados do Estadão e olhava a grade de programação, tentando identificar as séries", comenta. A pesquisa ficou mais complicada quando a saída dos gigantescos livros que guardam as edições completas do jornal passou a ser limitada a dez volumes. A idéia de fazer o livro foi para a gaveta e só voltou a rondar o autor em 1996, quando a oferta de TV a cabo no País já era mais consistente.
"Eu fiz uma tabela que começava na década de 50 com o nome dos seriados no Brasil, título original, canal e quantidade de episódios de cada atração. Já tinha mais de 900 inserções quando comecei a escrever mesmo o livro, em 2003", conta. A partir daí, muito material foi cortado, o suficiente até para montar outro livro (o que pode mesmo se tornar realidade em alguns meses).
Em 328 páginas, Pereira reuniu imagens, informações de referência e muitas curiosidades de centenas de seriados, organizados por década de produção. "Diria que 99% das séries brasileiras estão no livro", afirma o autor, que teve o cuidado de incluir também atrações mexicanas, alemãs, francesas, inglesas e até australianas.
A publicação tenta citar atrações de todos os gêneros: de infantis a faroestes, passando por policiais, dramas, comédias, romances e ficção científica. O Almanaque traz também diálogos marcantes, listas, bastidores e informações sobre o elenco e trilha sonora das séries.
Novos temposDurante a pesquisa, Pereira pôde notar como os costumes mudaram com o passar dos anos. "Hoje você torce pelo mafioso de 'Família Soprano' e sabe que até o herói da atração é humano e está sujeito a falhas. Não há mais a mítica do 'bonzinho' e nem é necessário colocar os personagens falando baixo sobre uma gravidez inesperada", pondera.
Outra diferença nítida é que nos anos 50 "fazer uma série na TV era considerado o enterro de um ator. Hoje, se alguém consegue emplacar numa série, às vezes vale mais do que fazer um bom filme no cinema".
| ALMANAQUE DOS SERIADOS Autor: Paulo Gustavo Pereira Ediouro 328 páginas R$ 49,90 |