#!vm;utf-8 $response.setStatus(301) ##moved permanently $response.sendRedirect("https://entretenimento.uol.com.br") Leia trecho de "Nerdquest", de Pedro Vieira - 21/08/2008 - UOL Jovem
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21/08/2008 - 19h57

Leia trecho de "Nerdquest", de Pedro Vieira

Da Redação
Com um texto que flui tão rápido e divertido quanto em história em quadrinhos (uma das grandes referências da obra), o livro de estréia do carioca Pedro Vieira, "Nerdquest", acompanha um grupo de jovens, amigos há tempos, que tem em comum o gosto por música alternativa, games, desenhos animados, cinema e RPG. Todos também passam por uma fase de dúvidas sobre o futuro que desejam para si mesmos, enquanto enfrentam as cobranças das pessoas ao redor.

Leia abaixo os dois primeiros capítulos do livro:


COMMON PEOPLE
(Gente como a gente, Pulp)


A sensação do Fundão ficando para trás sempre era agradável, mas aquele dia parecia diferente. Havia um engarrafamento na Linha Vermelha, mas Lucas e Marcos estavam tão acostumados que nenhum deles sequer soltou algum palavrão. Marcos baixou o volume do rádio e resolveu puxar conversa, vendo que o amigo estava calado desde que haviam entrado no carro.

- E aí, rapaz? Como vai ser agora, acabou de se formar e tal... - Lucas acabara de apresentar sua monografia de conclusão de curso e, depois de quase cinco anos de Fundão, agora ele voltava pra casa sabendo que não precisaria retornar aos pântanos fétidos da UFRJ.

- Ah, moleque, não enche, porra. Não estou com saco pra pensar nisso agora.

Marcos não se intimidava com uma resposta grosseira. Lucas tinha uma queda pelos dramalhões, se dependesse dele o mundo estaria acabando toda semana. Talvez fosse culpa de um consumo obsceno, praticamente contínuo, de revistas em quadrinhos. Homem-Aranha, X-Men, essas coisas. A longo prazo é pior do que novela.

- Deixa de ser viado. Quando a gente vai comprar os ingressos pro filme? - Perguntou Marcos.

- Porra, é foda. Agora que eu me formei não tenho nenhuma idéia de que porra vou fazer. Pensei que ia ficar mais fácil, mas as coisas só complicam - resmungou Lucas.

"Então era isso", pensou Marcos, "crise de viadagem".

- O que aconteceu?, é a debilóide da sua namorada que está te enchendo o saco com aquela bullshit de subir na vida logo?

- Porra, vai se fuder. A Monique não é debilóide só porque não lê Sandman ou não sabe de cor as letras do Pulp - retrucou Marcos, defendendo a namorada, embora não aparentasse tanta convicção.

- Eu nem gosto de Pulp, bandinha de viado.

Nesse momento, o carro da frente deu uma freada brusca e Lucas quase bateu. Um vendedor de coca-cola e biscoito Globo circulava entre os carros irremediavelmente presos no trânsito congestionado.

- Basta um engarrafamento pra esses vendedores ambulantes brotarem do chão. Acho que eles são gerados por abiogênese. Geração espontânea, essas merdas. Quando mais de dez carros ficam parados juntos por muito tempo na Linha Vermelha, eles germinam do asfalto. Surreal - comentou Marcos.

- Eu pensei que você gostasse de Pulp.

- Só gosto de Babies. Ah, e Disco 2000. E uma outra que eu esqueci.

- Você já ouviu mais alguma coisa?

- Não.

- Porra! Então como...

- Afinal, Lucas, quando a gente vai comprar os ingressos?

- Caralho muleque, falta mais de um mês! Quando começar a vender eu compro, porra!



IN BETWEEN DAYS
(Entre dias e dias, The Cure)


Jorge trabalhava em um sebo em Copacabana fazia alguns meses. Dez meses, para ser mais exato. Ele já havia estourado umas três vezes o prazo pra entregar sua monografia sobre moedas helênicas, ou algo do gênero. Marcos sempre se esquecia o que ele cursava, era alguma coisa que terminava com o sufixo grego "logia". Não valia tanto a pena fazer muito esforço para se lembrar.

- E aí rapá - Jorge estava atarefado arrumando umas pilhas de livros quando Marcos chegou.

- Tranqüilo. Tá de bobeira? - perguntou Jorge enquanto decidia onde colocar uma versão em inglês de Carlos Castañeda. Não havia uma prateleira para "literatura latina em inglês".

- Eu tava lá na facul com o Lucas. Só que o moleque teve uma crise nervosa na volta e eu implorei pra ele me deixar aqui.

- E por que isso teria acontecido? - perguntou Jorge, cético, sabendo que Lucas era dado a crises nervosas periódicas. Um tipo de TPM existencial.

- Acho que tem alguma coisa a ver com aquela namorada debilóide. Ela não deve ter topado se fantasiar de Sakura ou Sailor Moon pra ele, sei lá.

- Porra, pára de chamar a garota de debilóide. Só porque ela não lê Sandman nem sabe todas as letras do The Cure de cor não significa que...

- Vai se fuder, eu nem gosto de The Cure. Banda de viado.

Jorge conhecia Marcos o suficiente para ignorá-lo. Resolveu que ia colocar o Castañeda junto com os outros livros em inglês mesmo.

- E a norueguesa? - perguntou Marcos. Jorge tinha uma "namorada" na Noruega. Marcos fazia questão de pensar em "namorada" entre aspas mesmo.

- O que que tem?

- Você vai pra lá? Qual o nome dela mesmo? Laurana?

- Laurana? Tá doido?, ela se chama Aundy.

- Ah, eu sabia que parecia nome de personagem de RPG.

Suspiro

- E você vai pra lá mesmo?

- Vou, não tô dizendo há meses que estou economizando dinheiro pra ir pra lá? Por que todo mundo tem que repetir as coisas trinta vezes pra você?

- Mas, tipo assim, você nem conhece a garota, nunca saiu do Brasil! Se você chegar lá e ela quiser te sodomizar com uma cinta-caralha? Você vai ter que aceitar, né? Não vai poder fazer essa desfeita pra sua anfitriã.

- Ah moleque, vai se fuder - Jorge pôs a pilha de livros no chão e fez as notas que faltavam na planilha. O sebo era tão zoneado que era praticamente inútil manter algum registro, mas as pessoas gostam de manter registros de coisas inúteis.

- Melhor do que ficar aqui nessa bosta. Aliás, não sei como você não está preocupado. As suas perspectivas são tão mínimas quanto as minhas e você nem... - Jorge estava se empolgando com a lição de moral que estava para passar em Marcos, mas o amigo o interrompeu, totalmente indiferente.

- Caraca, olha só, um Dungeon Master Guide D20 novinho!

- Marcos pegou o livro na pilha mais próxima. Estava novinho em folha mesmo.

- Esse livro é meu, pode largar. A gente não tem RPG amanhã? Eu estava fazendo umas anotações pra aventura.

- Ei, calma aí. Essa é uma loja de livros usados. Esse livro é usado, pô - riu Marcos, debochado.

- Porra, deixa de ser babaca.

- Ei... ? - Marcos chamou o balconista que estava passando por ali, carregando uma pilha de vinis velhos. - Quanto que tá?

- Hmmm - fez o homem, enquanto passava uma vista de olhos desinteressada no Dungeon Master Guide de Jorge.

- Dez reau.

- Valeu - e virando-se pra Jorge, Marcos completou: -Vou levar esse, moço!

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